A comunicação desde os primórdios tempos sempre foi algo importante para que o homem pudesse estabelecer relações humanas.
No âmbito da saúde clínica muitas vezes é desafiador exercer uma boa comunicação a todos os envolvidos com a dinâmica do dia-a-dia, especialmente aos recém-egressos em saúde, jovens profissionais que muitas vezes não foram preparados durante a graduação com uma disciplina específica da área da comunicação.
Profissionais de saúde com longa trajetória na carreira também desconhecem algumas práticas imprescindíveis para a comunicação assertiva, especificamente aos pacientes que vivenciam danos como as doenças crônicas.
Tenório et al. (2022) discorre que: “A fim de estabelecer uma boa relação médico-pessoa, o profissional terá que desenvolver habilidades que permitam a organização da consulta e a fluidez da entrevista, de modo a culminar com a criação de vínculo. Para que esses objetivos possam ser alcançados, é imprescindível que o médico seja capaz de se comunicar de maneira eficaz.”
Diante de tantas competências e habilidades exigidas para exercer práticas em saúde, inclusive a do business que pode fazer parte do percurso, também não é contemplada nos currículos.
Em geral, os profissionais das áreas de saúde com atuação em clínicas, consultórios particulares ou em redes hospitalares acabam ficando prejudicados nesta dinâmica que se faz inerente aos profissionais psicólogos pois, exercita essa práxis, essa conexão entre os demais colegas em saúde e os pacientes de modo mais assertivo.
A comunicação, uma das competências necessárias a todos, pontualmente na área das ciências da saúde, deveria ser integrada nas grades curriculares das faculdades e universidades brasileiras.
No entendimento de Tenório et. al., (2022), “O próprio Currículo Baseado em Competências para MFC1 vê as habilidades de comunicação como um atributo essencial ou seja, espera-se que todo residente, ao fim de seu processo de formação como especialista, tenha adquirido tal competência.
Percebe-se a muito que, esta não é uma realidade disponível a todos os profissionais de saúde que atuam nas redes públicas e privadas no Brasil.
É notório que, deste grupo muitos estarão atuando com os cuidados paliativos, pois a população está em processo de envelhecimento e cronicidade nas patologias, bem como os pacientes necessitam serem paliados, como anuncia a seguir (ANCP, 2022).
No contexto brasileiro, observa-se um crescimento significativo no número de serviços de Cuidados Paliativos, evidenciado pela expansão para 234 serviços assistenciais em 2022, refletindo um aumento de 22,5% desde 2019.
Estes serviços estão distribuídos por todo o território nacional, com uma concentração notável nas regiões Sudeste e Nordeste.”
Entretanto, há déficit nas competências dos profissionais que os distanciam das comunicações que podem ser equivocadas e gerar ruídos com os pacientes, principalmente os em cuidados paliativos, causando desconfortos e gerando medos e desconfiança, aumentando a labilidade emocional que já vivem.
O Inquérito ASCO (1998) apud Baile et al. (2000), descreve que: [...menos de 10% dos respondedores do inquérito tinham qualquer treinamento formal para a transmissão de más notícias e apenas 32% tiveram a oportunidade durante seu treinamento de observar entrevistas em que houve a transmissão de más notícias.
Nesta citação evidencia-se a lacuna existente há décadas no que tange a comunicação com técnica assertiva. Ainda, o Inquérito salienta que 53% dos respondentes médicos indicaram ter uma habilidade de boa a muito boa na transmissão de más notícias, 39% achavam-se apenas razoáveis e 8% ruins.
Para que as más notícias possam ser inseridas nas condutas e aconteça uma comunicação adequada profissional-paciente percebe-se a necessidade da intervenção do psicólogo como mediador, pois é o profissional altamente competente e hábil a apoiar as demandas dos colegas de saúde quando estes tem que falar algo impactante emocionalmente como as más notícias afim de promover uma abordagem com escuta ativa e, de apoio sensível pois, faz parte da sua práxis.
Para complementar estas ações de comunicação em situações de comunicação existe o Protocolo SPIKES personalizado para dar más notícias e o “role-play” utilizados para o ensino das HbCR (Desenvolvimento de habilidades de comunicação e relacionais) que é voltado para a condução da entrevista “centrada no paciente”.
O Protocolo SPIKES (2000), tem origem americana, é realizado em seis (06) etapas do processo sendo um facilitador nas comunicações dos profissionais de saúde que, atuam fortemente com pacientes oncológicos e o mesmo serve para comunicar avanços na doença ou comunicados de óbito.
Assim, é representado por siglas em inglês que estão no inquérito de Asco (2000) e, descreve que, houveram mais confiança entre os profissionais interrogados na pesquisa após realizarem o SPIKES associado ao “role-play” para notificarem os pacientes.
CONCLUSÕES:
Neste sentido, existem notícias que necessitam serem comunicadas aos pacientes com assertividade, compaixão, ética e, esta complexidade deverá ser conduzida de modo profissional usando de técnicas de abordagem relacional apreendidas no contexto didático-pedagógico em cursos de graduação, residências ou pós-graduação.
A competência técnica especializada na comunicação para dar apoio ao paciente e seus familiares se faz ímpar, garantindo um acolhimento e humanização adequados.
Espera-se que, no Brasil cada vez mais as instituições hospitalares, unidades básicas de saúde, bem como a rede privada passem a disseminar este conhecimento tão imperioso pois, essas técnicas modificam bilateralmente a "verdade a ser dita" e, a valorar essas práticas de comunicação, tão significantes no contexto das notícias difíceis aos pacientes.
REFERÊNCIAS
ATLAS. Associação Nacional de Cuidados Paliativos. Discussão. Disponível em: https://paliativo.org.br/onde-encontrar-cuidados-paliativos-no-brasil/ Acesso em 01ag2024
Rabelo, L., Garcia, V. L. , Role-Play para o Desenvolvimento de Habilidades de Comunicação e Relacionais. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/JTdc3skScq5RQCT77tqywmx/?format=pdf acesso em: 01ag2024
Walter F. Baile, Robert Buckman, Renato Lenzi, Gary Glober, Estela A. Beale, Andrzej P. Kudelka. SPIKES – Um Protocolo em Seis Etapas para Transmitir Más Notícias: Aplicação ao Paciente com Câncer Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3639828/mod_folder/content/0/SPIKES%20%E2%80%93%20Um%20Protocolo%20em%20Seis%20Etapas%20para%20Transmitir%20M%C3%A1s%20Not%C3%ADcias%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20ao%20Paciente%20com%20C%C3%A2ncer.pdf Acesso em 01ag2024
SANAR. Conheça o Protocolo SPIKES e aprenda como dar más notícias. Disponível em: https://sanarmed.com/como-dar-mas-noticias-conheca-o-protocolo-spikes/
acesso em 01ago2024
OMS. Cuidados Paliativos. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/acoes/cuidados-paliativos#:~:text=Segundo%20a%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20Mundial%20da%20Sa%C3%BAde,sociais%2C%20psicol%C3%B3gicos%20e%20espirituais%E2%80%9D%20%28WHO%2C%202002%29.&text=Segundo%20a%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20Mundial,e%20espirituais%E2%80%9D%20%28WHO%2C%202002%29.&text=Organiza%C3%A7%C3%A3o%20Mundial%20da%20Sa%C3%BAde,sociais%2C%20psicol%C3%B3gicos%20e%20espirituais%E2%80%9D Acesso em 29Jun2024
1MFC Médico de Família e Comunidade
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